Presente em diversas formas no dia a dia dos paraenses, a cultura indígena inspira artesãos regionais e conquista admiradores dentro e fora do Pará. O segmento conta com investimentos do governo do Estado, que incentiva o empreendedorismo regional.
No Dia Internacional dos Povos Indígenas, e também durante todo o ano, diversos exemplos de produtos artesanais valorizam essa cultura milenar e transformam a realidade de centenas de pessoas.
Por meio da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), os profissionais recebem apoio técnico, participam de cursos, oficinas e palestras, e têm acesso a cadastros no sistema brasileiro que quantifica e qualifica a demanda desse segmento.
Para garantir a participação em eventos regionais e nacionais, que contribuem para a profissionalização, a Secretaria emite a carteira do artesão. Em 2023 foram entregues 1.070 carteiras, enquanto 2 mil artesãos foram beneficiados com ações e serviços. As palestras promovidas pela Seaster têm como principais eixos Noções de precificação, Atendimento ao cliente, Gestão de negócios e Vitrinismo.
A Secretaria avança na oferta de serviços a empreendedores, que recebem orientações sobre legislação, plano de negócios, vitrinismo e precificação, para alavancar os empreendimentos. A produção e venda das peças inspiradas na cultura indígena ajudam a fortalecer a autonomia financeira das mulheres indígenas e a preservar suas tradições.
Reconexão com a ancestralidade – Para essas artesãs, o trabalho vai além do aspecto comercial; é uma forma de se reconectar com suas raízes, preservar culturas e reafirmar o papel de guardiãs da floresta. Cada peça carrega histórias da relação milenar dos povos originários com a mata. O design é um elo entre tradição e modernidade, que perpetua a cultura indígena.
A artesã Anne Lobo, neta de indígenas, foi criada em Belém e integra o movimento de descolonização de povos que perderam suas referências. Ela trabalha há vários anos com a confecção de bonecas de pano indígenas, agregando o valor da cultura regional viva.
“Há 15 anos venho dedicando minha vida à criação de bonecas de pano, um universo onde encontro expressão e conexão com minhas raízes. No entanto, foi somente no ano passado que uma conversa com um amigo especial transformou meu olhar e despertou em mim o desejo profundo de explorar e celebrar a cultura indígena”, relata Anne Lobo.
Ela conta que esse amigo a chamou de “artista amazônida’, um elogio que a levou a resgatar memórias de sua avó Quitita, que carregava a ancestralidade do Povo Tupinambá. “Foi a partir dessas lembranças que nasceu a primeira boneca indígena, uma homenagem emocionante à minha avó e ao legado de seu povo”, informa.
O objetivo da artesã com esse trabalho ultrapassa o aspecto meramente artístico. Para ela, em cada peça tem a missão de disseminar e preservar a rica cultura dos povos originários, utilizando o lúdico como ferramenta para educar e encantar.
Em Belém, Anne percebeu a lacuna nesta narrativa. Até o ano passado ninguém havia usado bonecas de pano para contar essa história, o que fez Anne decidir tomar a frente para compartilhá-la com o mundo. “É desafiador ser aquele que se aventura por territórios não explorados. Mas cada obstáculo reforça ainda mais minha determinação em contar essas histórias tão valiosas, que não podem se perder com o passar do tempo. É sobre representatividade cultural o conceito da minha marca”, reforça a artesã.