Porto Belo (SC) – Em um dia de muito vento, céu espesso de nuvens e garoa constante, a visitadora do programa Criança Feliz Solange Schreiber percorre o trajeto do centro de Porto Belo até a zona rural da cidade. Toda terça-feira, ela leva na bolsa alguns brinquedos feitos com material reciclado e muitas informações para estimular o desenvolvimento dos filhos menores da dona de casa Maiara Cardoso.
Maiara e o marido recebem o Bolsa Família e têm três filhos. Todos moram em uma pequena casa de madeira. O pequeno David, de 10 meses, o Daniel, de dois anos, e o mais velho, Davi, de quatro anos fazem a festa quando a visitadora Solange chega. Maiara conta que quando as visitas começaram todos estranharam bastante. “Como nós moramos meio isolados, eles não estavam muito acostumados com outras pessoas aqui, mas na terceira visita eles já gostaram bastante e hoje ficam perguntando quando que a moça vai aparecer de novo para brincar com eles”, revelou.
O pequeno David foi acompanhado desde a gestação, já Daniel desde o primeiro ano de vida. Mesmo sem idade para participar do programa, o mais velho, Davi, participa das atividades com os irmãos e, de acordo com a visitadora, cumpre um papel especial para o fortalecimento de vínculos da família. “Quando o mais velho aparece para participar, o Daniel, que é mais tímido, se solta e se sente mais seguro para brincar”, explica Solange.
As atividades repassadas pela visitadora são executadas durante a semana pela mãe, e os resultados, segundo ela, são visíveis. “Eles pararam de brigar, ficaram mais curiosos, passaram a pedir mais interação. E foi bom para mim também porque eu aprendi a ter mais paciência com eles, a dar mais atenção”, conta. Ela revelou que com o início das visitas do Criança Feliz, passou a ver a visitadora como alguém para compartilhar histórias. Alguém que a escuta, com quem pode dividir alguns lamentos e ainda as pequenas alegrias de acompanhar o desenvolvimento dos filhos.
“Ela é uma pessoa que só por vir até aqui e perguntar como nós estamos já é muito boa”, afirma Maiara. “Minha mãe não era uma pessoa ruim, mas com ela não tinha isso de cantar, de dar carinho, nem ir à escola. E com eles eu quero que seja diferente”, concluiu.
Investimento – A família de Maiara é uma das 130 atendidas hoje em Porto Belo. O município aderiu ao Criança Feliz em fevereiro de 2018, e em março do mesmo ano o trabalho começou. Um feito considerado arriscado à época pelo prefeito, Emerson Stein. “Nós não tínhamos apoio do estado nem de outros municípios que poderiam implantar o programa em Santa Catarina porque todos viam com desconfiança, mas resolvemos apostar”, conta.
Mais de um ano depois, o resultado surpreendeu e a iniciativa, hoje, é considerada um sucesso. “Nós estamos muito felizes porque as famílias atendidas estão satisfeitas, as visitadoras trabalham com muita dedicação, a sociedade de Porto Belo está vendo o nosso trabalho e a rede socioassistencial se aproximou para atender às pessoas”, disse.
Porto Belo foi a primeira cidade de Santa Catarina a implantar o Programa que tem o objetivo de acompanhar meninos e meninas de até três anos e gestantes inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federal, e crianças de até seis anos com deficiência que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Na adesão inicial, a meta do município foi atender 100 pessoas. Hoje, o número chegou a 131 crianças e 24 gestantes em 130 famílias.
Para isso, o governo federal repassou mais de R$ 125,6 mil à prefeitura (até maio de 2019). A equipe é composta por cinco visitadoras para auxiliar no desenvolvimento das crianças, estimular atividades e o convívio com as famílias. “Estamos sempre em busca de capacitação e conversando com profissionais para que o trabalho seja cada vez mais qualificado”, afirmou a psicóloga e supervisora, Mara Machado.
Para o secretário municipal de Assistência Social, Magno Muñoz, o segredo do sucesso foi a persistência. “Nós conseguimos extrair as coisas boas do programa e hoje estamos tendo resultados. Acho que o principal foi não desistir, foi acreditar que o objetivo maior era o bem das crianças, das famílias, das pessoas. Foi um investimento”, ressaltou.
A secretária nacional de Promoção do Desenvolvimento Humano, Ely Harasawa, destaca o papel da gestão. “Isso faz toda a diferença porque a vontade política se traduz em priorização, em dar condições, estimular, motivar, ou seja, se a gestão quer, ela dá condições e facilita os processos para que o programa seja implementado”, considerou.
“O fato de o visitador chegar até as pessoas e perceber as dificuldades acaba provocando para a busca de soluções e de outras políticas e serviços que podem atender às demandas e necessidades desses cidadãos e dessas famílias. E isso transforma”, concluiu.