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Brasil Sem Miséria: Com PAA, mulheres extrativistas do Amapá melhoram renda

Associação no município de Laranjal do Jari, a 280 quilômetros de Macapá, é formada por trabalhadoras que garantem o sustento das famílias com a castanha-do-brasil e banana. Muitas delas são beneficiárias de programas de transferência de renda

Macapá, 26 – Mãe de seis filhos, Andrelina Almeida Barros, 52 anos, viu sua vida se transformar depois de entrar para a Associação de Mulheres do Alto Cajari (Amac), no município de Laranjal do Jari, no Amapá. Junto com outras extrativistas, ela passou a produzir biscoitos e derivados de castanha-do-brasil, deixando para trás uma pesada rotina de trabalho na roça. Grande parte da produção é comprada pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

De 2010 até o final deste ano, o total de repasses do MDS à associação, por meio do PAA, chegará a cerca de R$ 439 mil. Esse dinheiro está contribuindo para mudar a realidade de muitas mulheres da região, com geração de emprego e renda em áreas de florestas habitadas por famílias em situação de extrema pobreza, público-alvo do Plano Brasil Sem Miséria.

Andrelina faz parte do grupo de 108 mulheres de 13 comunidades da região da Reserva Extrativista (Resex) do Alto Cajari que são associadas à Amac. Do total de trabalhadoras, 58 ficam na cozinha, onde se revezam em três grupos durante a semana para descascar cerca de seis quilos de castanha por dia para fabricar mais de 1,2 mil pacotes de biscoitos e paçoca doce. Elas também produzem um petisco de banana salgada e frita.

A produção é distribuída em 11 escolas e entidades de Laranjal do Jari e Macapá. Entre as instituições beneficiadas nos dois municípios, estão a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e o Serviço Social do Comércio (Sesc).

Até o final deste ano, o PAA repassará R$ 259.840 à associação. Pelo contrato, ela deve entregar 26,6 mil quilos de produtos este ano. Em 2011, o ministério destinou à Amac R$ 89.895,60, com a compra de 11,7 mil quilos de banana frita e paçoca. Em 2010, o governo federal pagou R$ 90 mil por nove mil quilos de biscoitos de castanha.

“Minha vida mudou muito. Antes, esperava pelo marido. Hoje é diferente. As donas de casa trabalham e têm seu próprio dinheiro”, conta Andrelina, mostrando os braços marcados por feridas causadas pelo ralador de mandioca que usava para fazer farinha quando era criança.

Preservação em família – As castanhas são recolhidas nas áreas das famílias das associadas. Em geral, os maridos ficam incumbidos da coleta, que vai de dezembro a maio. A farinha usada para fazer os biscoitos é comprada pelas mulheres. O combinado é cada uma levar 15 quilos duas vezes por ano para a associação.

A banana também é colhida nos quintais das associadas. Cada mulher leva, em média, dois cachos por ano para a Amac. Em 2012, porém, elas tiveram que comprar em Macapá, a 280 quilômetros de Laranjal do Jari, porque a quantidade não foi suficiente para o volume da produção.

Além do PAA, um dos grandes incentivadores do trabalho da Amac é o Programa Bolsa Verde. Andrelina e parte das associadas recebem R$ 300 a cada trimestre com o benefício. Em troca, elas desenvolvem atividades de conservação ambiental, com a manutenção da cobertura vegetal e o uso sustentável dos recursos naturais.

Só na Resex do Alto Cajari, que engloba, além de Laranjal do Jari, os municípios de Mazagão e Vitória do Jari, cerca de 200 extrativistas têm o benefício do Bolsa Verde. Em todo o país, há aproximadamente 30 mil beneficiários.

“A gente não pode derrubar castanheira nem botar fogo no castanhal. Com a preservação, a gente consegue ganhar dinheiro”, diz Andrelina, que também recebe o Bolsa Família. “Hoje temos 47 castanheiras que já estão mais altas que meus filhos.”

Soma de esforços – Apesar de existir desde 2004, a Amac ganhou força a partir de 2009, segundo a presidente da associação, Elziane Ribeiro de Souza. Cada associada contribui com R$ 2 mensais. Às vezes, o dinheiro não é suficiente para cobrir as despesas da entidade. Então, cada uma colabora um pouco mais para comprar o que falta. Parte da renda obtida com a produção é revertida à manutenção da pequena fábrica e à compra de materiais.

As mulheres da Amac não param. Além da produção, organizaram uma feira permanente em Laranjal do Jari. Lá, vendem bolos, tapiocas, batata, banana, laranja e diversos produtos derivados de castanha. Elas também planejam começar a vender os produtos em Macapá.

“Tudo o que as mulheres da associação conseguiram até hoje vem da soma de esforços”, destaca Elziane, mãe de três filhos que estou até o ensino médio. “Em primeiro lugar, tem que ter união. Senão, a gente não consegue nada.”

Ascom/MDS