Brasília – Casada e mãe de três filhos pequenos, a agricultora Maria Alves de Sousa, 32 anos, mora no Quilombo Santa Cruz, em Ouro Verde de Minas (MG), no Vale do Mucuri. Assim como ela, outras 105 famílias da comunidade conseguiram, com o apoio do Centro de Referência de Assistência Social do município, acessar políticas públicas, como o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), e os serviços da rede de proteção social.
Maria conta que a maioria das famílias quilombolas recebe o Bolsa Família para complementar a renda. Ela recebeu o benefício durante cinco anos. Quando a renda melhorou, optou por não atualizar o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. “Outras famílias também fizeram o mesmo. Temos que passar o benefício para quem mais precisa”.
Para que as famílias do Bolsa Família sejam acompanhadas regularmente, a equipe do Cras vai até a comunidade e também realiza encontros periódicos no município. “Nós temos uma organização social muito boa e priorizamos a qualidade de vida, a cultura e os valores da nossa comunidade. O Cras é um dos nossos principais parceiros”, diz Maria.
O Centro também tem políticas direcionadas para os idosos e oferece qualificação profissional para os jovens. Para a terceira idade, é realizado um trabalho de formação e elevação da qualidade de vida desse grupo. “Também são promovidos passeios com os idosos e intercâmbio com outras comunidades”, relata a quilombola, que é presidente do Conselho Estadual de Assistência Social de Minas Gerais e participou como delegada da 10ª Conferência Nacional de Assistência Social, no ano passado, em Brasília.
Maria defende que o Sistema Único de Assistência Social (Suas) é fundamental para o Brasil continuar avançando. “É possível dar o valor que a assistência social merece. É uma política ampla e, se for articulada com outras políticas, vai garantir mais qualidade de vida para as famílias”, explica.
Segundo ela, é preciso trabalhar para que as políticas do Suas melhorem cada vez mais e cheguem a todos que precisam. “É necessário que os usuários participem da construção das políticas e que essas políticas considerem as diversas realidades e modo de vida de cada comunidade”.
Produção coletiva – No quilombo, ganhar a vida como boia-fria deixou de ser uma realidade. A renda das famílias da comunidade vem da produção de alimentos. Maria conta que recebe cerca de R$ 1 mil por mês, graças à comercialização dos produtos para os programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
“Produzimos feijão, mandioca, frutas, amendoim e muitas hortaliças. Além disso, temos uma produção coletiva de iogurte”. Para produzir o iogurte, a comunidade teve acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O projeto evitou o êxodo rural e gerou renda para os agricultores familiares quilombolas.
Além disso, relata Maria, a comunidade está garantindo a educação dos jovens sem que eles precisem se mudar do quilombo para estudar. “Conseguimos reunir todas as comunidades quilombolas do município nesse projeto. Hoje são mais de 53 jovens que têm acesso ao ensino superior sem ter que sair da comunidade”, explica.