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Braile é ferramenta para inclusão social da pessoa cega

Os novos aplicativos que transformam em áudio textos escritos em mídia eletrônica não substituem o braile. O sistema de leitura e escrita pelo tato é fundamental na alfabetização e no processo educacional das pessoas cegas ou com alto comprometimento da visão. A importância desse instrumento de inclusão é lembrada em 8 de abril, Dia Nacional do Braile.

Apesar da facilidade de ouvir os textos, pessoas com deficiência visual afirmam que o sistema inventado pelo francês Louis Braille, em 1827, é imprescindível. A escrita e a leitura são feitas pelo tato e baseiam-se na combinação de seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas de três pontos, o que permite a formação de 63 caracteres.

UNIVERSO – No Paraná, de acordo com o censo do IBGE 2010, o número de pessoas que declarou ter deficiência visual chegou a 1,7 milhão. Porém, nas formas severas, que incluem as pessoas cegas e com grande dificuldade de enxergar, o número é de 321,6 mil.

No começo deste ano, a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social lançou o Plano dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2018 – 2021), com versão em braile. Na versão  digital, disponível na página da Secretaria da Família, com ferramenta que facilita a navegação, e nas outras duas versões impressas, tradicional e para pessoas com baixa visão.

Coordenadora estadual da Política da Pessoa com Deficiência, da Secretaria da Família, Flavia Cordeiro explicou que o objetivo de publicar o plano em várias versões é tornar as informações mais acessíveis possível. “É importante que toda pessoa com deficiência tenha conhecimento de seus direitos e quais são as políticas que podem lhe beneficiar”, explicou Flavia.

O plano é resultado da parceria com representantes de 11 secretarias estaduais e cinco órgãos da administração indireta e contou com a participação da sociedade civil, pelos conselhos municipais e pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Coede).

Em todo o estado, a Secretaria incentiva projetos para pessoas com deficiência. O atendimento é feito por entidades sociais e nos Centro de Referência Especializado de Assistência Social – Creas.

ALFABETIZAÇÃO – O ex-atleta paraolímpico Mário Sérgio Fontes é cego desde os 3 anos. Por volta dos 6 anos, como qualquer criança, começou a frequentar a escola. “Não aprender braile priva o cego da leitura. Quanto mais cedo se aprende, melhor é para o desenvolvimento do tato”, relatou o ex-atleta.

Ler em braile possibilitou a Mário Sérgio concluir o curso de Direito, área em que chegou a trabalhar em escritórios de Curitiba. Porém, Mário não estava satisfeito. Fez vestibular novamente e se formou em Educação Física, pela Universidade Federal do Paraná, em 1990. Porém, sua ligação com o esporte vem desde os anos 80.

“Sou o primeiro professor de educação física cego. Trabalho no que gosto e estou perfeitamente adaptado e feliz”, contou, satisfeito. Hoje, com 60 anos, é técnico da Secretaria Estadual de Esporte e Turismo, responsável pelo paradesporto no Paraná, e membro do Comitê Paraolímpico Brasileiro.

Em 1984, Mário Sérgio participou da criação da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC), o que garantiu a participação de deficientes visuais na Paraolimpíada de Nova York. Também foi representante brasileiro no subcomitê de Futebol de 5 da Federação Internacional de Esportes para Cegos, na Paraolimpíada do Rio.

ESTUDOS – O sociólogo Ivã de Pádua perdeu completamente a visão aos 8 anos, devido ao glaucoma. Hoje, aos 38 anos, faz mestrado em Educação e acumula duas especializações, em políticas públicas e em educação especial. Também ocupa o cargo de coordenação de imprensa e divulgação, da Associação Cascavelense de Pessoas com Deficiência Visual – Acadevi, em Cascavel.

O braile foi fundamental para Ivã seguir os estudos acadêmicos. “Aprendi espanhol e agora estou aprendendo inglês. Sem o braile seria impossível conhecer a grafia das palavras dessas línguas e mesmo da língua portuguesa”, contou Ivã. Ele faz questão da impressora braile e outros equipamentos que transformam textos em português para braile.

Ivã é conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência. O conselho, composto por 12 membros ligados ao governo do estado e a mesma quantidade de pessoas da sociedade civil, participou ativamente da elaboração do Plano dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

DATA – O dia 8 de abril foi escolhido como o Dia Nacional do Braile em homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro. Azevedo tinha deficiência visual desde o nascimento e estudou o método em Paris.

da Ascom/Secretaria da Familia